terça-feira, 8 de julho de 2008

Umas “Couvitas” que o Fontanário não conseguiu regar…

Pois é! Aqui está o verdadeiro fontanário que nos matou muitas vezes a sede durante as tardes de brincadeiras…
Sempre que jogávamos á bola, ou outro jogo qualquer, sabíamos que a nossa salvação em termos de líquidos estava ali mesmo ao lado (sempre fresquinha), a água do fontanário do campo velho.
Os tanques que algumas senhoras das vizinhanças do "campo velho" usavam para lavar as roupas, serviam também (algumas vezes) de piscina para nós, e nada melhor que um belo banho depois de uma tarde de brincadeira, numa tarde de verão…
Durante algum tempo, num vau de escadas, no exterior das traseiras do salão paroquial, e junto ao campo velho, viveu em condições muito precárias, um jovem casal. Pouco tempo depois de se instalar, o casal tinha já uma pequena horta a ocupar um canto, do nosso campo de jogo.
Umas “couvitas” que por mais que fossem regadas nunca davam nada; ou a senhora não tinha muito jeito para aquilo, ou o campo por ser duro e de terra batida não queria nada com a senhora; ou ainda, e a hipótese mais provável, a quantidade de bolas projectadas sem querer, ou propositadamente para o canteiro, fazia com que as malditas “couvitas” nunca crescessem.
Sempre que a bola pisava o canteiro da senhora, era uma festa!! A senhora era enorme, tinha uma condição física duas vezes maior que o marido, que era pequeno e magrinho.
A imagem da Senhora (enorme, forte, e completamente desengonçada) a correr atrás do “Zé R…” ainda hoje faz parte das nossas recordações de criancice.
De vez em quando ela conseguia apanha-lo, e então batia-lhe (e devia doer!).
Certo dia, o “Zé R…” deu o grito do “Ipiranga”, e disse:
“-Alto lá! Eu não fiz nada! E se a senhora a partir deste momento me continuar a bater, eu também lhe bato!
Então a partir desse dia, a quantidade de bolas projectadas para o canteiro aumentou significativamente, porque era o “Zé R…” que tinha a obrigação como guarda-redes, de ir buscar a bola para continuar o desenrolar do jogo.
O jogo parava quase sempre cinco a seis minutos porque a bola de jogo era apreendida, e seguia-se um pequeno “round” de luta livre, com todos nós a fazer de claque de apoio (ora pela senhora, ora pelo “Zé R…”). Quando ele tentava tirar-lhe a bola, a senhora batia-lhe, e ele respondia-lhe, dando-lhe uma pequena palmada, que tinha mais o significava de insubordinação ou irreverência, que o intuito de a magoar, pois a força que ele infligia era fraca.
As nossas brincadeiras, eram sempre precedidas de um princípio de respeito para com os mais velhos, é que se chegassem aos ouvidos dos nossos pais que tínhamos insultado alguma pessoa mais velha… Elas “Caíam-nos”, ou seja, éramos sovados, porque os pais daqueles tempos, essas coisas não perdoavam!
A senhora como passava a maior parte das tardes sozinha em “casa” andava nisto connosco o dia todo. Acho que servia de ocupação até o marido chegar do trabalho.
A senhora, apesar de toda a pobreza, aparentava ser uma senhora feliz. Lembro-me ainda do riso dela, e da única frase que a ouvia dizer:
“PODE SER! MAS VÓS “INDES” VER…”

Nota: Esta situação durou pouco tempo, e este casal foi viver para uma casinha condigna, e com as condições mínimas de conforto.

1 comentários:

Isabel Ferreira disse...

O Fontanário e o Salão Paroquial fazem mesmo parte da infância de qualquer criança que tenha vivido naquela zona - Avenida, Rua do Montelhão, Ruivos, etc - das "couvitas" não me lembro, mas lembro-me do casal viver por alí...
A Sr.ª faleceu em Dezembro último, como diz o povo "Que Deus a tenha em bom lugar!"