Pois é! Aqui está a verdadeira princesa de alumínio.
Como era habitual, com a chegada das férias de verão, os miúdos tinham que inventar jogos e passatempos para passarem os dias, que passavam a ser semanas, e depois a ser três meses de tempo livre, até que voltasse novamente as aulas, lá para Setembro ou Outubro. Era necessário planear e organizar toda a nossa rotina de férias para o verão…
O ponto de encontro era sempre o mesmo, o largo da “Venda da Teresinha”, um pequeno e bom largo para iniciar o aquecimento do dia.
A hora do costume, que normalmente seria por volta das 9h30, um grupo de miúdos iniciava um pequeno jogo da bola a três. Um guarda-redes e mais dois jogadores a tentar marcar-lhe golos. A baliza era um portão em rede situado nesse mesmo largo, com as medidas exactas para jogar a "peladinha".
Meia hora mais tarde, por volta das 10h00, já éramos mais ou menos 10 miúdos, o número certo de jogadores para iniciar um jogo a sério. Deslocávamos até ao campo velho lá da terra para dar inicio ao jogo da bola. No Campo Velho, elaborávamos as equipas, com toda a gente a querer ser da equipa do “Mindo”, o puto maravilha, que era o nosso maior craque da bola. Então, jogávamos até á hora do almoço.
Mas a verdade seja dita, nem sempre havia bola para jogar futebol; e nesses dias tínhamos que arranjar outros tipos de jogos e brincadeiras para “matar” o tempo.
Assim, jogávamos ao “Beto”, um jogo tipo o baseball americano, mas com regras nossas…
Jogávamos á “concha”, um jogo com quatro buracos dispostos em quadrado e com um no centro. Cada jogador tinha uma carica, e o objectivo era passar por todas as casas, sendo a ultima a casa o buraco do centro, sem que fosse apanhado pelo adversário…
Jogamos á “porrada”, jogo com duas equipas, em que cada uma tinha a sua casa de abrigo. Quando o jogador tivesses nesta, estava protegido e ninguém lhe podia bater. Quando estava fora batia-se em confronto físico com um ou mais jogadores da equipa adversária…
Estes, eram alguns dos jogos praticados por nós, no campo velho lá da terra.
Mas nem sempre jogávamos, ou passávamos o tempo sem produzir nada, às vezes íamos ao alumínio.
A história do alumínio é simples!
Andávamos pelos montes da aldeia, pelos ferros velhos, e pelos quintais das vizinhas á procura de ferro, ou alumínio para vender ao Sr. Rego.
O alumínio dava 2$50Esc./Kilo e o Ferro dava 1$00Esc./Kilo.
Nestas coisas de arranjar dinheiro as crianças são muito práticas:
“-Nada de ferro; só alumínio!”.
O melhor nestas coisas, é sempre fazer uma sociedade com quotas iguais (os mesmos deveres! os mesmos direitos!), isto é como quem diz:
“-Ou, vamos os dois juntos á procura do alumínio; ou não vês um tostão!!!”
Depois de formada a sociedade iniciávamos a nossa empreitada lá por casa, com a nossa extracção do minério “caseiro”.
Em casa, começávamos a procurar os perfumes das nossas irmãs mais velhas, e a técnica de identificação do frasco requeria alguma perícia. Virava-se o frasco para baixo, fazia-se um risco no fundo, e se este fosse baço… então, tínhamos a confirmação que era alumínio! Os ditos frasco de alumínio, os perfumes das nossas irmãs, eram esvaziados por nós nos seus quartos, para podermos levar os frascos vazios.
Cada sócio aparecia junto do outro já com alguma mercadoria para venda, dando assim inicio ao trabalho de campo pelos montes, pelas lixeiras de ferro velho, e pelos galinheiros das senhoras lá da aldeia (aqui, para surripiar as panelas da comida, das suas galinhas e da restante “bicharada”).
“Se vocês vissem o tamanho, e a beleza daqueles utensílios…”
Depois de muito trabalho de prospecção, e do saco cheio, havia que ir a casa do Sr. Rego para proceder á pesagem e ao recebimento do tão merecido dinheirinho….
Numa destas sagas do alumínio, ao chegar a casa todo satisfeito com os meus 12$50 no bolso, tive uma bruta reprimenda por parte da minha mãe. Uma senhora, vizinha da minha avó, tinha ido fazer-lhe queixa porque nos tinha visto a surripiar a belíssima panela das suas galinhas.
Em conclusão, acho que a minha mãe teve que lhe dar uma panela (não tenho a certeza), obrigou-me a ir a casa da D. Deolinda pedir-lhe desculpa, e fiquei de castigo o fim de semana todo, em casa sem poder sair.
Lembro-me que nesse sábado assisti a toda a boda de casamento do príncipe Charles e da Lady Diana, (uma seca!!!), e ainda, pela única vez na minha vida tentei torcer pelo Benfica num jogo contra a Académica. Pois o “Mindo”, dizia que quem não fosse do Benfica, não jogava na equipa dele.
Por isso, nesse dia torci pelo Benfica (penso que deu uma goleada), e gramei o casamento "todinho" do príncipe Carlos com a princesa Diana.
Que descanse em paz! Mas desde esse dia, a princesa Diana ficou ligada para sempre á minha ultima empreitada do alumínio!!
Obs.: Data do casamento, 29 DE JULHO DE 1981
2 comentários:
Lembro-me perfeitamente da história do alumínio ... e da panela da Dª Deolinda LOL
Coitada da Senhora, onde foi ela arranjar outra panela para as pobres das galinhas ???!!! LOL
Eu a historia do teu aluminio nao me lembro, lembro m de tb andar á procura.....mas ja nessa altura eu era um BETO e entao era mais pelos campos d futebol ahahahaha, mas ainda me lembro das canhotas do quim padeiro...ja agora lembrast da musica??? "quim padeiro caloteiro" ahahahaha
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