quinta-feira, 25 de setembro de 2008
O meu Cubo Mágico, que de Mágico não tinha nada.....
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 01:51 2 comentários
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Depois dos cortejos fúnebres, um “Rical” de pêssego na casa do Povo.
As tardes nem sempre eram passadas no largo da “venda da Teresinha”, nem no campo Velho. Havia que começar a explorar outros pontos da nossa aldeia, afinal havia sempre um conhecido noutro ponto da nossa terra; um primo, um amigo da catequese, um conhecido da escola, tudo era motivo mais que suficiente para nos dirigirmos para lá das nossas fronteiras. Para isso, fizemos um pequeno trabalho de prospecção e verificamos que podíamos explorar em termos de diversão, todas aquelas aquelas áreas.
O certo é que descobrimos, que o largo da feira, possuía um mundo de atractivos completamente novo, não havia somente um campo para jogar á bola, mas oferecia-nos um leque vasto de oportunidades a explorar.
Avançar mais de 500m para além do nosso território (o “largo da Teresinha”, ou o campo velho), era uma tarefa quase titânica, e de algum risco para quem na altura tinha 8, 9, ou 10 anos…
Juntávamos á vontade de viajar, toda a coragem de ultrapassar as fronteiras até aí definidas, e isso fazia com que nos sentíssemos verdadeiros aventureiros, verdadeiros conquistadores!
Assim, com a desculpa de ir brincar com um amiguinho da escola que vivia na feira, lá íamos nós á descoberta do desconhecido.
Avançávamos, quinze metros para baixo do campo velho, e passávamos pelo meio da casa do Senhor Abade, muitas vezes cruzávamos com ele, e pedíamos-lhe “a sua bênção”, que prontamente nos dava o seu “Deus Vos abençoe!”. Isto funcionava como uma bênção, ou uma protecção para quem parte á descoberta de mundos desconhecidos, ou seja, para quem parte para “além da Taprobana”!
Depois de passar a casa, e o passadiço do quintal do Senhor Abade, chegávamos á periferia da igreja, onde muitas vezes entravamos na sacristia, onde com ajuda de algum amiguinho que normalmente ajudava na celebração da missa de Sábado á noite ou no Domingo de manhã, surripiávamos algumas hóstias (não benzidas), que ele sabia onde encontrar.
Algumas vezes ajudávamos nos enterros. Quando alguém morria nós dirigíamos á igreja para sermos “contratados” para ir no cortejo fúnebre em representação da “Santa infância”. Lembro-me que nos davam uma 'opa' para vestir, de cor branca com uma capa azul bebé por cima, e ofereciam-nos (aqui a parte mais importante) 2$50 a cada um, por ir em sua representação. Algumas vezes, do outro lado da sacristia, num anexo semelhante, que funcionava mais como sede de ofertório, e de arrecadação de algum mobiliário, existia um piano já velho. Era uma festa, sempre que tínhamos de esperar, dávamos grandes concertos naquele piano. Até que um dia (e penso que foi a ultima vez que pertenci á “Santa Infância”), um dos Padres da freguesia, apanhou em flagrante delito um dos meus camaradas de cortejo, e arremessou-lhe semelhante estalo, que ainda hoje, está presente na minha memória a violência daquela mão a ser travada pela cara daquele pequeno miúdo, que não teria mais de 10 anos…
O certo é, quando íamos nestes cortejos, o dia estava ganho!!
Depois do périplo da igreja, avançávamos mais uns metros para baixo e passávamos pela padaria de baixo, pela barbearia do “pato”, seguido da farmácia e finalmente sem deixar de passar pela loja de roupa do Sr. Fernando (Bianca), chagávamos ao cruzeiro!
Daí avistávamos toda parte de cima da feira, as suas enormes árvores, o quiosque, e a placa de cima das barracas de apoio á feira. A feira realizava-se aos sábados de manhã, e lembro-me (muito vagamente) que quando ia á feira nesta altura, normalmente com a minha mãe, ou com a Senhora Amélia, uma senhora minha vizinha, o grosso dos feirantes encontravam-se na parte inferior, e os maridos das senhoras que faziam compras, e outros mirones, iam para cima dessa placa ver a malta a passar, ler o jornal, ou ainda montavam tertúlias sobre os acontecimentos futebolísticos da altura. Algumas vezes, nós íamos á feira e comprávamos (caso fosse sábado) um bolo, na senhora dos bolos, e íamos abeirar-nos juntos destes homens, para ouvir as suas conversas.
Mas isso era ao sábado, pois nos restantes dias íamos ao largo da feira para desafiar os meninos desse sítio, para realizarmos jogos da bola, ou para ir aos sapos no campo do “nandinho”.
Um pouco mais tarde, encontramos, um local em que podíamos entrar sem problemas, sem que os donos dos cafés nos expulsassem, a famosa Casa do Povo…
As manhãs das férias grandes, iniciavam com o jogo da bola no campo velho, e eram precedidas de tardes quentes a jogar diversos jogos de mesa, na casa de povo.
Passávamos as tardes a jogar ping pong”, matraquilhos, poker de dados, cartas, e a beber o famoso rical de pêssego (muitas vezes com os 2$50 ganhos nos cortejos fúnebres) e a comer tremoços. Na casa do povo éramos tratados como verdadeiros clientes, pois não tínhamos a obrigação de consumir nada.
Na casa de povo, aprendemos com o senhor João a técnica do ping pong, com o “Nelson R…” a jogar poker de dados, e com outros a jogar jogos de cartas (sobe e desce, copas, lepra, sueca, e mais tarde jogávamos king), quanto aos matraquilhos somente aperfeiçoada a técnica, pois a aprendizagem foi no Angola.
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 01:13 2 comentários
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Depois do jogo da Bola, nada melhor que acabar o domingo na “Vacaria”…
Nas manhãs de domingo, depois da missa das oito e trinta, íamos ás reuniões dos escuteiros que se realizavam no salão paroquial com o chefe “Firo” e o chefe “Toní”.
A verdade seja dita, nem sempre era assim, ou seja, nem nós íamos sempre á missa, nem sempre íamos ás reuniões dos escuteiros. Isto acontecia sempre que os chefes nos ameaçavam: “Quem não vier ás reuniões, não vai aos acampamentos”.
Mas nós sabíamos, que bastava irmos a duas reuniões antes dos acampamentos, que ele nos deixava ir. Os acampamentos eram espectaculares!
Muitas vezes faltávamos á missa dominical, e ás reuniões dos escuteiros para podermos ver os jogos dos juniores, que se realizavam ao Domingo de manhã, no campo de Barreiros (campo novo).
Lembro-me que a primeira vez que faltei á missa propositadamente, foi para ver um jogo de fim de época, em que o clube da nossa terra jogava com o Atlético Cabeceirense. Com a vitória do clube visitante por 1-3 (se não estou em erro). O que importa nesta história, é que o Atlético Cabeceirense (juniores), subiu de divisão, houve no final uma pequena invasão ao campo de jogo; e eu consegui entrar nos balneários, e trazer de lá duas camisolas de jogo. Estas eram lindas! Azuis e rubras, originais, uma com o número 3 e a outra com o número 7. Nessa manhã consegui ser o pequeno herói entre os meus amigos, com estes admirar (com inveja) o meu presente. Foi a primeira vez que tive uma camisola oficial de jogo, pois as camisolas que normalmente tínhamos para jogar á bola, resumiam-se a uma t-shirt branca, em que o número nas costas, era personalizado por nós com uma ” borrona” de cor.
As tardes de domingo resumiam-se com a ida á bola, quando havia jogo em casa, para ver o clube da terra, e desta vez para ver os grandes (os seniores), a equipa principal a jogar.
Lembro-me de pertencer á claque infantil do clube, os “Joaninhas”, porque o nosso clube vestia de vermelho.
Nos domingos que não havia jogo, as tardes eram passadas com brincadeiras no pátio da escola, a jogar ao “Baliza em Baliza”; a ir espreitar os namorados, ir para o salão tentar que o porteiro das sessões de cinema nos deixasse entrar na última parte do filme, ou ainda, a ir á discoteca.
Teríamos menos de doze anos quando nos finais das tardes de domingos, íamos até á estrada nacional, mais propriamente para a frente do portão da discoteca “ARPA”.
A discoteca “Arpa”, foi durante muitos anos a única discoteca existente nas redondezas, pelo que durante muitos anos, foi objecto de críticas, principalmente por parte das entidades eclesiásticas cá da terra, que a viam como um antro de pecado…
Começamos a reparar que a chegada altura, no final da tarde, o pessoal que saía da discoteca (toda a gente conhecia a discoteca não por “Arpa”, mas por “Vacaria”), fazia-se acompanhar por uma senha que trazia de dentro do espaço de dança.
Como a discoteca era relativamente pequena, muitos dos seus frequentadores vinham cá fora apanhar ar, ou ressacar, ou ainda para dar uma volta com a miúda. Como normalmente voltavam, antes de saírem da “Vacaria”, os frequentadores traziam uma senha que lhes permitia entrar novamente no espaço, sempre que o desejassem.
No final das tardes de domingo, começamos a parar frente ao portão que dava acesso á “Vacaria”, para a caça á senha.
Sempre que vinha alguém para fora, nós perguntava-mos se voltavam. Caso as pessoas dissessem que não, então nós pedíamos a senha, para podermos entrar. À medida que os domingos passavam, muitos eram aqueles que já nos conheciam e nos davam a senha para podermos dançar, e principalmente para vermos a malta aos beijos e abraços.
Muitas vezes (quase sempre) depois de arranjar a senha era necessário dar a volta ao porteiro, visto que ainda não possuíamos idade para frequentar estes espaços, tínhamos que convence-lo a deixar entrar.
Inicialmente, conseguíamos entrar porque algum dos nossos irmãos mais velhos, ou os amigos destes falavam com o porteiro para nos deixar entrar, com o velho argumento de que sessão estava acabar…
O que estava acabar para uns, estava a iniciar para nós! Sejam bem-vindos á “Sound Disco”!
Logo á entrada tinha o “Zé Ramalho” a controlar os casacos. Tudo no escurinho, a cabine de som do Emídio Guerreiro do lado esquerdo; a pista de dança no centro, com a sua belíssima bola de cristal e as suas luzes intermitentes acompanhar a música que era debitada.
Tudo era fascinante para nós, um mundo completamento diferente e moderno!
Outra das coisas que nos encantava, era o bar (na parte inferior), e do reservado, com os pares de namorados aos beijos, e a mesa da patroa da discoteca sempre cheia de bebidas.
Mas o que nós gostávamos mesmo, era ver os pares de namorados a dançar agarradinhos durante o “Slow”, na pista de dança que estava marcada por uma “cerca” de madeira que demarcava a zona de dança.
O que parecia ter sido uma tarde de diversão na discoteca, não passava de meia hora bem gozada, que depois de nós termos entrado, dava como encerrava a sessão desse domingo…
O certo era, que depois de sairmos da “Vacaria” cruzávamo-nos muitas vezes com o meu avô á entrada do portão da discoteca. Segundo ele: Só estava por ali porque era normal dar um passeio ao domingo por aqueles lados (eu acho que ia lá porque gostava de ver as miúdas a passar).
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 23:40 2 comentários
terça-feira, 8 de julho de 2008
Umas “Couvitas” que o Fontanário não conseguiu regar…
Pois é! Aqui está o verdadeiro fontanário que nos matou muitas vezes a sede durante as tardes de brincadeiras…
Sempre que jogávamos á bola, ou outro jogo qualquer, sabíamos que a nossa salvação em termos de líquidos estava ali mesmo ao lado (sempre fresquinha), a água do fontanário do campo velho.
Os tanques que algumas senhoras das vizinhanças do "campo velho" usavam para lavar as roupas, serviam também (algumas vezes) de piscina para nós, e nada melhor que um belo banho depois de uma tarde de brincadeira, numa tarde de verão…
Durante algum tempo, num vau de escadas, no exterior das traseiras do salão paroquial, e junto ao campo velho, viveu em condições muito precárias, um jovem casal. Pouco tempo depois de se instalar, o casal tinha já uma pequena horta a ocupar um canto, do nosso campo de jogo.
Umas “couvitas” que por mais que fossem regadas nunca davam nada; ou a senhora não tinha muito jeito para aquilo, ou o campo por ser duro e de terra batida não queria nada com a senhora; ou ainda, e a hipótese mais provável, a quantidade de bolas projectadas sem querer, ou propositadamente para o canteiro, fazia com que as malditas “couvitas” nunca crescessem.
Sempre que a bola pisava o canteiro da senhora, era uma festa!! A senhora era enorme, tinha uma condição física duas vezes maior que o marido, que era pequeno e magrinho.
A imagem da Senhora (enorme, forte, e completamente desengonçada) a correr atrás do “Zé R…” ainda hoje faz parte das nossas recordações de criancice.
De vez em quando ela conseguia apanha-lo, e então batia-lhe (e devia doer!).
Certo dia, o “Zé R…” deu o grito do “Ipiranga”, e disse:
“-Alto lá! Eu não fiz nada! E se a senhora a partir deste momento me continuar a bater, eu também lhe bato!
Então a partir desse dia, a quantidade de bolas projectadas para o canteiro aumentou significativamente, porque era o “Zé R…” que tinha a obrigação como guarda-redes, de ir buscar a bola para continuar o desenrolar do jogo.
O jogo parava quase sempre cinco a seis minutos porque a bola de jogo era apreendida, e seguia-se um pequeno “round” de luta livre, com todos nós a fazer de claque de apoio (ora pela senhora, ora pelo “Zé R…”). Quando ele tentava tirar-lhe a bola, a senhora batia-lhe, e ele respondia-lhe, dando-lhe uma pequena palmada, que tinha mais o significava de insubordinação ou irreverência, que o intuito de a magoar, pois a força que ele infligia era fraca.
As nossas brincadeiras, eram sempre precedidas de um princípio de respeito para com os mais velhos, é que se chegassem aos ouvidos dos nossos pais que tínhamos insultado alguma pessoa mais velha… Elas “Caíam-nos”, ou seja, éramos sovados, porque os pais daqueles tempos, essas coisas não perdoavam!
A senhora como passava a maior parte das tardes sozinha em “casa” andava nisto connosco o dia todo. Acho que servia de ocupação até o marido chegar do trabalho.
A senhora, apesar de toda a pobreza, aparentava ser uma senhora feliz. Lembro-me ainda do riso dela, e da única frase que a ouvia dizer:
“PODE SER! MAS VÓS “INDES” VER…”
Nota: Esta situação durou pouco tempo, e este casal foi viver para uma casinha condigna, e com as condições mínimas de conforto.
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 00:55 1 comentários
sexta-feira, 4 de julho de 2008
O Portão das Nossas Memórias…
Pois é! Aqui está o verdadeiro portão de todas as nossas memórias.
O Verão, continuava a ser a estação de todas as brincadeiras!
Todos os dias a caminho da habitual concentração matinal, passávamos obrigatoriamente por uma rua de terra batida, onde se localizava a casa da Sra. Aurora, a ultima casa que antecedia o largo da “Venda da Teresinha”.
Todos os dias jogávamos á bola, e esta era normalmente cravada aos meus primos que eram filhos dum árbitro de futebol.
Caso nos portássemos bem, ele deixava-nos jogar com uma das bolas de capão que normalmente trazia para casa depois dos jogos que arbitrava. Jogar com uma bola de CAPÃO, era um privilégio que nem qualquer miúdo na altura tinha. Sempre que isso acontecia, era dia de festa; nos outros dias, o jogo era feito com uma simples bola de plástico, daquelas que saía de tempos em tempos nos “jogadores” comprados na “Venda da Teresinha”, ou jogávamos com alguma bola já furada, ganha em algum natal passado.
Os jogos da bola que decorriam normalmente no largo, eram muitas vezes interrompidos pelos gritos e gargalhadas dos miúdos, seguido das corridas destes á volta da Sra. Aurora, a tentar fugir ás reprimendas dela; que vinha ao largo tentar saber quem tinha pontapeado o portão.
A Senhora Aurora, era uma senhora solteira e já velhinha, que tinha a seu encargo uma menina da nossa idade, que estudava connosco.
Sempre que lá passávamos pontapeávamos ou arremessávamos uma pequena pedra para o portão de chapa. Sabíamos que ela estava á nossa espera do lado detrás do portão, para ver se nos apanhava em flagrante delito. Quando isso acontecia (o que era raro) puxava-nos as orelhas e tentava saber de quem éramos filhos, para poder fazer queixa às nossas mães…
Muitas das vezes, entretínhamos a bater no portão para desviar a atenção da Sra. Aurora, para que alguém pudesse saltar para o seu galinheiro, para surripiar algumas penas às suas galinhas, que depois serviam para embelezar os trajes das nossas brincadeiras dos índios & cowboys.
Muitas vezes, no fim do dia, depois de mais um dia de brincadeiras, o portão era pontapeado pela última vez, e servia de sinal de partida para a corrida final até casa…
No fundo, todos gostávamos da Senhora Aurora, pois participava (e acabava por ajudar) em muitas das nossas brincadeiras.
Hoje, tenho a certeza que o mesmo acontecia com ela, gostava de nós (crianças) porque acabávamos por ser a sua única companhia diária, juntamente com a Fátima.
Que Deus a tenha em bom lugar! O lugar que ela merece!
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 20:52 2 comentários
memórias de infância | elefante horácio
recuemos uns anos... a chegada do verão não só trazia as férias que duravam três meses, as brincadeiras a toda a hora, ... como fazia com que o horácio [só recentemente soube o seu nome], o elefante do quiosque, saísse da jaula e ficasse à sombra à espera que as crianças se apoderacem dele. eu e a minha irmã depois de muito chatearmos o meu pai lá recebíamos a tão desejada moeda [de 20$00 se não estou em erro] que nos punha a baloiçar de trás para a frente, e se nos portássemos bem até tínhamos direito a um gelado de dois sabores [as saudades que tenho daqueles gelados... os sabores... a baunilha que melava ao fim de minutos nas nossas mãos... o ritual de chupar o gelado pela parte de baixo para não se perder uma gota]. as tardes na loja do meu pai sempre foram divertidas e o quiosque de joane é um dos locais que ficou nas minhas memórias de criança.
Publicada por maria à(s) 17:04 1 comentários
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Aos Índios, aos Cowbois...e aos "Contrapilas"!!!
As férias de verão corriam tranquilamente com os nossos habituais jogos, as nossas empreitadas ao alumínio, e com as nossas intermináveis conversas sobre quem era o segundo melhor jogador do grupo, uma vez que o craque era o “Mindo”.
Sempre que uma retroescavadora fazia algum serviço lá na terra; um desaterro, um desbravar de árvores em algum monte, ou outro serviço qualquer, a malta estava garantidamente lá (as tardes inteiras) a vê-las trabalhar.
Tenho a certeza que este tipo de máquinas ainda hoje fascina e povoa o imaginário de muitas crianças daquela época. A força invencível daquelas máquinas e o poder de quem as controla, exerciam sobre nós um fascínio indescritível. Sentávamos no alto do monte, ou no alto da casa vizinha analisar a perícia do condutor e a comentar todo o trabalho efectuado na obra.
Se puxarem um pouco pela memória talvez cheguem á conclusão: onde havia um “contrapilas”, (assim chamávamos nós às retroescavadoras), havia sempre um grupo de crianças a fazer plateia…
A nossa aldeia é enorme, e chegávamos a percorrer mais de dois quilómetros,muitas vezes de uma ponta á outra, só para ver estas máquinas a trabalhar. Os “contrapilas” eram os nossos “TRANSFORMERS” daquela época, onde tinhamos a vantagem de os podermos ver (sempre que podiamos e queriamos) ao vivo!
No inicio de umas férias de verão, num monte muito perto do largo da “Venda da Teresinha”, estava a ser desbravado por vários “contrapilas”, com intuito de lá serem construídas algumas habitações.
O espectáculo não podia ter sido melhor, vários dias de entretimento a ver as máquinas a trabalharem e (no final) um monte de árvores tombadas, umas por cima das outras…
Tínhamos que explorar esta situação ao máximo, e nada melhor que jogar aos índios e aos cowboys, neste cenário de arvores tombadas, onde poderíamos fazer esconderijos e barracas fantásticas.
Antes de dar inicio ao jogo, havia que tratar das vestimentas e do armamento…
Os cowboys, vestiam-se com as vestes do carnaval, ou seja, naquela altura quase toda a malta tinha um chapéu de cowboy e uma pistola de água.
Os Índios tinham os arcos de flechas feitos com uma boa cana arqueada, onde rachavam as pontas para colocar o fio de corda bem esticado, e as flechas eram as varetas dos guardas chuvas velhos enfeitadas com penas. Actuavam em tronco nu, com as suas pinturas de guerra...
Por estes dias, as galinhas da senhora Aurora é que eram as sacrificadas! Por necessidade nossa precisávamos de penas para os arcos, para as flechas, e acima de tudo para “coroas” dos índios. Nestas coisas dos índios, havia uma hierarquia, e o chefe usava a longa “coroa” que descia pelas costas abaixo.
Durante mais ou menos duas semanas, íamos todos os dias para o campo de batalha deixado pelos “contrapilas”, jogar aos índios e aos cowboys...
Nota: “Contrapilas”= a CATerpillar (marca das retroescavadoras)
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 00:20 2 comentários
domingo, 22 de junho de 2008
A Princesa do Aluminio…
Pois é! Aqui está a verdadeira princesa de alumínio.
Como era habitual, com a chegada das férias de verão, os miúdos tinham que inventar jogos e passatempos para passarem os dias, que passavam a ser semanas, e depois a ser três meses de tempo livre, até que voltasse novamente as aulas, lá para Setembro ou Outubro. Era necessário planear e organizar toda a nossa rotina de férias para o verão…
O ponto de encontro era sempre o mesmo, o largo da “Venda da Teresinha”, um pequeno e bom largo para iniciar o aquecimento do dia.
A hora do costume, que normalmente seria por volta das 9h30, um grupo de miúdos iniciava um pequeno jogo da bola a três. Um guarda-redes e mais dois jogadores a tentar marcar-lhe golos. A baliza era um portão em rede situado nesse mesmo largo, com as medidas exactas para jogar a "peladinha".
Meia hora mais tarde, por volta das 10h00, já éramos mais ou menos 10 miúdos, o número certo de jogadores para iniciar um jogo a sério. Deslocávamos até ao campo velho lá da terra para dar inicio ao jogo da bola. No Campo Velho, elaborávamos as equipas, com toda a gente a querer ser da equipa do “Mindo”, o puto maravilha, que era o nosso maior craque da bola. Então, jogávamos até á hora do almoço.
Mas a verdade seja dita, nem sempre havia bola para jogar futebol; e nesses dias tínhamos que arranjar outros tipos de jogos e brincadeiras para “matar” o tempo.
Assim, jogávamos ao “Beto”, um jogo tipo o baseball americano, mas com regras nossas…
Jogávamos á “concha”, um jogo com quatro buracos dispostos em quadrado e com um no centro. Cada jogador tinha uma carica, e o objectivo era passar por todas as casas, sendo a ultima a casa o buraco do centro, sem que fosse apanhado pelo adversário…
Jogamos á “porrada”, jogo com duas equipas, em que cada uma tinha a sua casa de abrigo. Quando o jogador tivesses nesta, estava protegido e ninguém lhe podia bater. Quando estava fora batia-se em confronto físico com um ou mais jogadores da equipa adversária…
Estes, eram alguns dos jogos praticados por nós, no campo velho lá da terra.
Mas nem sempre jogávamos, ou passávamos o tempo sem produzir nada, às vezes íamos ao alumínio.
A história do alumínio é simples!
Andávamos pelos montes da aldeia, pelos ferros velhos, e pelos quintais das vizinhas á procura de ferro, ou alumínio para vender ao Sr. Rego.
O alumínio dava 2$50Esc./Kilo e o Ferro dava 1$00Esc./Kilo.
Nestas coisas de arranjar dinheiro as crianças são muito práticas:
“-Nada de ferro; só alumínio!”.
O melhor nestas coisas, é sempre fazer uma sociedade com quotas iguais (os mesmos deveres! os mesmos direitos!), isto é como quem diz:
“-Ou, vamos os dois juntos á procura do alumínio; ou não vês um tostão!!!”
Depois de formada a sociedade iniciávamos a nossa empreitada lá por casa, com a nossa extracção do minério “caseiro”.
Em casa, começávamos a procurar os perfumes das nossas irmãs mais velhas, e a técnica de identificação do frasco requeria alguma perícia. Virava-se o frasco para baixo, fazia-se um risco no fundo, e se este fosse baço… então, tínhamos a confirmação que era alumínio! Os ditos frasco de alumínio, os perfumes das nossas irmãs, eram esvaziados por nós nos seus quartos, para podermos levar os frascos vazios.
Cada sócio aparecia junto do outro já com alguma mercadoria para venda, dando assim inicio ao trabalho de campo pelos montes, pelas lixeiras de ferro velho, e pelos galinheiros das senhoras lá da aldeia (aqui, para surripiar as panelas da comida, das suas galinhas e da restante “bicharada”).
“Se vocês vissem o tamanho, e a beleza daqueles utensílios…”
Depois de muito trabalho de prospecção, e do saco cheio, havia que ir a casa do Sr. Rego para proceder á pesagem e ao recebimento do tão merecido dinheirinho….
Numa destas sagas do alumínio, ao chegar a casa todo satisfeito com os meus 12$50 no bolso, tive uma bruta reprimenda por parte da minha mãe. Uma senhora, vizinha da minha avó, tinha ido fazer-lhe queixa porque nos tinha visto a surripiar a belíssima panela das suas galinhas.
Em conclusão, acho que a minha mãe teve que lhe dar uma panela (não tenho a certeza), obrigou-me a ir a casa da D. Deolinda pedir-lhe desculpa, e fiquei de castigo o fim de semana todo, em casa sem poder sair.
Lembro-me que nesse sábado assisti a toda a boda de casamento do príncipe Charles e da Lady Diana, (uma seca!!!), e ainda, pela única vez na minha vida tentei torcer pelo Benfica num jogo contra a Académica. Pois o “Mindo”, dizia que quem não fosse do Benfica, não jogava na equipa dele.
Por isso, nesse dia torci pelo Benfica (penso que deu uma goleada), e gramei o casamento "todinho" do príncipe Carlos com a princesa Diana.
Que descanse em paz! Mas desde esse dia, a princesa Diana ficou ligada para sempre á minha ultima empreitada do alumínio!!
Obs.: Data do casamento, 29 DE JULHO DE 1981
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 02:54 2 comentários
domingo, 15 de junho de 2008
A melhor Sala de Espectáculos do Mundo... de que há memória!
No final das tardes de Domingo, eu e o meu primo dirigíamos-nos para a entrada da maior sala de espectáculos do mundo.
Por volta das 19h30, e depois de muita insistência nossa, o porteiro lá nos deixava entrar…
Habitualmente aos domingos, nesta sala de espectáculos, actuava uma banda residente, naquela altura a nossa banda preferida. O nome desta banda era: “Esquema 4”
Quando chegávamos ao interior do recinto, já a banda ia no segundo ancore, e cantavam a pedido insistente de todos os espectadores, o “Satisfaction” dos Rolling Stones…
Ainda conseguíamos ouvir esta versão mais duas ou três vezes seguidas, nos restantes terceiro e quarto ancores.
Eu e o meu primo, que na altura teríamos 8 ou 10 anos de idade, descobrimos que se todos os domingos nos colocássemos á entrada do salão paroquial, onde se realizavam estes concertos, e se pedíssemos insistentemente ao porteiro, este nos deixava entrar lá para o final da sessão.
Já no recinto, a primeira coisa que fazíamos era tentar localizar o meu irmão mais velho, o Zé.
Uma vez localizado, ia-mos bater-lhe nas costas, e dizer-lhe que estávamos ali, para ver se nos pagava um “Rical” de pêssego, no bar.
Lá nos pagava o famoso “Rical” de pêssego, porque se não fosse de pêssego não era a mesma coisa.
Depois de sorvida a bebida, que para nós tinha um efeito de bebida energética, ninguém nunca mais nos paravam.
E meus amigos! Ninguém nos parava mesmo!
Lá estávamos nós na pista, os moçoilos mais velhos a abrir alas para ver-nos dançar. Hoje acho (acho não! tenho a certeza) que as crianças mesmo que dancem muito mal são um encanto!
O certo é que eu e o meu primo, não só dançávamos como cantávamos “ ai get geti nou, satisfacion, end ay now oh!oh!”, ou seja qualquer coisa a imitar os mesmos sons que os elementos dos “Esquema 4” iam debitando juntamente com a poderosíssima bateria do “Guerreiro” e as suas guitarras. A bateria era o instrumento que mais gostávamos, pois só ali é que conseguíamos ver uma.
Este ritual de domingo ao entardecer, durou provavelmente umas férias de escola, ou seja, aí uns cinco fins de semana…
Este ritual de domingo á tarde foi substituído, uns dois anos mais tarde, por sessões de Cinema.
Agora éramos mais, devíamos ser uns 4 ou 5 miúdos, colocávamos á porta de entrada, á espera que o porteiro nos deixasse entrar.
Depois de conseguir, deliciávamos-nos a ver as segundas partes dos filmes…
As saudades dos filmes do Bruce lee; do Bruce Spencer e o Tarence Hill, a Turma dos Repetentes, e de muitos outros filmes históricos…
Há que referir ainda, que nesta sala de grandes espectáculos, tivemos cá grandes nomes da música nacional, tal como as “Doces”, a “Maria Armanda”, a menina que cantava “eu vi um sapo…”, este foi o único concerto que consegui com que a minha mãe me deixasse ir, e foi mais uma vez o meu herói de criança, o "Grande irmão Zé" que me levou a vê-la…
A maior sala de espectáculos do mundo, o Salão Paroquial cá da terra, foi sem dúvida, o grande espaço cultural das minhas memórias de criancice.
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 23:59 3 comentários
sexta-feira, 13 de junho de 2008
"O Comboínho" da saudade...
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 22:16 2 comentários
terça-feira, 10 de junho de 2008
Olha o cavalinho...
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 16:47 2 comentários
Marco Aurélio Imperador Romano. 161 a 180
"O tempo é como um rio que os acontecimentos formassem, um rio termentoso. Mal uma coisa se anuncia, ei-la que já se vai, no seu lugar já está outra em jeito de abalada."
in, Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, cidade de Braga, Portugal.
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 13:43 0 comentários
As mulheres dos tremoços....
Publicada por Henrique Ferreira à(s) 03:30 1 comentários